Na Gramática Descritiva, de Mário Perini, no capítulo intitulado Classes de Palavras em Português, percebe-se uma crítica em torno das definições das categorias gramaticais. As críticas são pertinentes na medida em que certas definições dadas às classes de palavras deixam a desejar ou são duvidosas. Assim, o autor é imbatível ao questionar, principalmente, os exemplos colocados pela maioria dos gramáticos, como também, discute novas definições, sempre baseado em exemplos da língua viva e fluente dos falantes da língua materna.
As palavras, segundo o autor, na língua portuguesa, devem ser classificadas pelo seu potencial funcional em nível semântico e não pela sua classificação, apenas. Ora, o que vem a ser mesmo um substantivo? Um verbo? Um adjetivo? Se as palavras mudam de acordo com o desejo do falante como, nesse exemplo, trazido pelo autor: Tenho um sobrinho fazendeiro. Aqui, a palavra fazendeiro deixa de ser substantivo para ser o modificador do substantivo sobrinho, ou seja, ela é um adjetivo. Nota-se que a palavra não foi analisada isoladamente, mas dentro de um contexto frasal, possibilitando uma análise da palavra na sua real função. Esse e outros exemplos são colocados em xeque no capítulo intitulado Classes de Palavras.
Em se tratando de verbos, a definição de que somente os verbos podem desempenhar a função de núcleo do predicado fica vaga. Não se pode dizer que o verbo é sempre núcleo do predicado, porque há casos de frases em que o núcleo do predicado não é o verbo e, sim, o adjetivo. O exemplo a seguir traduz um pouco o que Perini sempre questiona: as definições duvidosas. Veja: Minha mãe é maravilhosa. O núcleo aqui não é o verbo e, sim, o adjetivo. Nesse caso, temos um predicado que é nominal com um verbo de ligação e um núcleo que é a palavra maravilhosa. Há de se considerar que algumas definições verificadas nas gramáticas são imprecisas ou vagas, assim como afirma Perini em sua Gramática Descritiva.
É evidente que o texto não trata apenas dessa definição. Todas as categorias gramaticais são alvo de estudo e de críticas, mas como o próprio autor mencionou no debate que envolve as categorias gramaticais que não dispunha de levantamento léxico. A análise foi feita com base nas diferenciações das funções das palavras no contexto de produção. Há de se considerar, portanto, o provisório. Perini chega a ser exaustivo quando usa as abreviações, que, a meu ver, dificultam o entendimento do texto. Contudo, a mensagem do texto é riquíssima.
O autor traz ainda uma breve explicação do que seja a gramática descritiva e a normativa. A gramática descritiva procura descrever a língua a partir de sua funcionalidade, ou seja, ela se utiliza do real emprego das palavras no contexto de produção, ao contrário da normativa, que nos impõe conceitos, regras e exemplos que muitas das vezes nem questionamos.
Ler Perini, sem dúvida, é importante para compreensão e distinção da gramática descritiva em relação à normativa, mas também pela riqueza de conteúdo abordado, permitindo aos leitores múltiplas reflexões e leituras/releituras acerca das categorias gramaticais – As Classes de Palavras da Língua Portuguesa.
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